
Já vivi unicamente anestesiada pela correria dos dias que se evaporavam, os natais que se esgotavam, as passagens de ano sem emoção.
Num dia qualquer, dei-me conta que deixara de aproveitar a vida, que esta passava célere, irónica, prestes a mostrar-se sem sentido e que já nem eu tinha lugar dela.
E ainda assim sorria, gargalhava, inventava planos. Inventava tantos planos... tantos que nunca poderás imaginar. Uns eram azuis, outros falavam de mar, sei lá quantos viviam de pequenos passeios nas avenidas, apenas a saborear a paz do momento e um gelado de morango, sem pensar que iria ver o mundo ruir ali mesmo à minha frente... Apenas a contemplar as montras.
E o universo virou a minha vida do avesso. Ensinou-me que existiam palavras para ser escritas, sonhos para reinventar. E os dias tornaram-se longos, verdadeiros carrosséis de emoções... Tudo ou nada, lágrimas ou sorrisos. A raiva e ânsia misturadas ao som de músicas que ainda hoje oiço.
Não soube escutar o universo na sua plenitude. Deixei-me envolver em culpa e medo. Senti-me uma efémera borboleta... E desisti. Esbarrei contra mim mesma. E aí o universo zangou-se. Tornou-me anónima no meio do nada. Deixei de usar a aliança, e guardei o anel de noivado, de pérolas e diamantes num pequeno baú. Escondi-me em sonhos antigos, desfeitos contra os rochedos que antes amei. Passo os dias muda. Chego ao final do dia e a voz sai rouca, como se tivesse gritado a plenos pulmões. Tenho vivido a adiar o fim e a transbordar de vontade de viver. É um contra-senso, não é? Até porque apenas exijo amar...
Querida Papillon
Sabes que a brisa não sopra sempre no mesmo sentido... embora a borboleta tenha um vôo efémero e errante, consegue fazer quem a vê mais feliz e o mundo muito mais belo.
Um beijo
Daniel
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Daniel Aladiah |
01 dezembro, 2005 00:56
Vole, petit papillon, vole de fleur à fleur, tu finiras par trouver le bonheur.
B@+
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Manu |
01 dezembro, 2005 07:16
gostei de ler-te
este texto está carregado de emoção...
jocas maradas de voos
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Su |
02 dezembro, 2005 23:17
Cada vez melhor, minha querida!
Estás a ver o meu sorriso orgulhoso, não estás?
Beijinhos doces, muitos!! :)
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Mitsou |
03 dezembro, 2005 00:15
É verdadeiramente surpreendente como expôes aqui tantas emoções nesta pequena crónica, e terminas de uma forma magnífica. Espero apenas que já não te sintas uma borboleta, porque ela é de facto muito bonita mas tem pouco tempo de vida prefiro que sejas um golfinho(a). Que é o um dos meus animais preferido.
Beijos
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Anónimo |
03 dezembro, 2005 14:02
Não existem borboletas com voos iguais mas esvoaçares semelhantes. Talvez por isso toda a profunda beleza deste/a papillon de letras preencha o ar envolvente. Um bjo, uma flor e um doce sorriso
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Amita |
03 dezembro, 2005 17:09
E exiges muito bem.
O amor é a mola real da vida...é isso que nos faz sentir gente!
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mfc |
04 dezembro, 2005 14:48
"...Até porque apenas exijo amar..."
E deves exigir! Porque amar e ser amado é um dos factores essenciais desta Vida!
Não te vou falar de borboletas, mas quero dizer-te que a Vida é para além da vida e da beleza da Borboleta, porque está em nós vivê-la intensamente.
Um abraço carinhoso e uma feliz semana :)
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Menina Marota |
04 dezembro, 2005 19:32
Consegui sentir cada palavra que escresveste!
Sabe bem ler-te.
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GNM |
04 dezembro, 2005 19:36
Amar ñ deverá ser uma exigência mas uma dádiva... :)
Li tudo, senti, tentei ver-te por detrás das palavras. Nem sempre consegui...
Beijinho para ti*
E Obrigada pelo lindo poema no Neruda que mandaste via e-mail!
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Anónimo |
04 dezembro, 2005 22:56
Querida Raquel,
Obrigada por me deixares entrar neste teu novo mundo...
Obrigada pela partilha de tantas emoções...
Obrigada pela tua escrita...
Apenas te digo:abre as asas e voa...vive...ama tão intensamente como escreves...!
Bjokas grandes e uma semana Feliz ":o)
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Anna^ |
05 dezembro, 2005 11:32
Para ler este teu texto não se pode ser interrompido.
Por detrás de cada palavra surgem sempre coisas novas, como quando se vai apanhar pexe na costa e se mete as mão por debaixo. Pode ser caranguejo ou não, nunca sabemos. Se metemos segunda vez as mão sob a mesma pedra por vezes encontramos lá mais peixe.
Mas isso só nas pedras boas. E nas palavras boas como as tuas. Pesquei muito, peixe conhecido e desconhecido (vou classificá-lo por espécie, ordem, etc...).
Quando queres escreves bem. E este, quanto a mim, teu humilde admirador, é muito bom.
Beijinhos.
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Nilson Barcelli |
05 dezembro, 2005 15:10
Olá lindo texto eu adorei ler-te Beijinhos
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Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes |
05 dezembro, 2005 18:01
mas pq raio continuamos a teimar na mm asneira de querer amar, outrém enão nos amamos o suficiente para sermos felizes. é como nas lenda: ouro atrai ouro, felicidade atrai felicidade, amor atrai amor. Bj de luz e paz e boa semana
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Conceição Paulino |
05 dezembro, 2005 19:00
"Deixei-me envolver em culpa e medo"...nunca foram bons companheiros. Vale mais um dia a chorar e outro a rir, que todos os que deixaste passar, cilindrando-te, deixando-te tipo zombie vageuando por aí sem caminho. Amar, ou procurar amor, continua a fazer todo o sentido.
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Graca Neves - mgbon |
06 dezembro, 2005 20:40
Provavelmente nunca saberás até que ponto entendo a maior parte do teu texto. Só que acho que essa vontade de viver e de amar tem que ser libertada. Enquanto é tempo, sabes? Ele passa tão depressa!
Beijos
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agua_quente |
07 dezembro, 2005 22:10
Olá minha querida, tu és fantástica...ama minha querida tenta ser feliz não importa como o que importa é ser feliz. Beijinhos
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Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes |
08 dezembro, 2005 15:29