24 novembro, 2005 

Achas-me especial, enquanto danço com as palavras e me inventas nariz, boca, cabelos e pele...
Viras-me do avesso e pedes para escrever mais e mais palavras... Dizes-me que o teu mundo é idêntico ao meu e não sabes como desejava conhecer alguém com um mundo como o meu.
Não foi à toa que procurei palavras, não foi à toa que coleccionei pensamentos...
Mas tu és o perfeito sedutor, com as tuas flores, beijos e passadas suaves... E dos sedutores tem-se medo...
E torna-se tão mais fácil "não viver". Estar-se quieto, deixar o vento passar, a maré encher, sentarmo-nos nas rochas e deixar o compasso do tempo medir a distância que nos protege de quem nos entra pelo coração e parece arrancar-nos a frio, pedaços de músculo.

22 novembro, 2005 

Tenho tanta poesia {barata} dentro de mim, tanta que não imaginas. Eu própria não me entendo, não me compreendo...
Falo de areia e mar e vento e estrada e luzes brilhantes numa avenida larga porque faz parte de mim...
São os únicos "seres" que jamais me magoaram, os únicos que jamais sequer sonharam esmagar-me ou dilacerar-me...
Sonho que me passeio num outro lugar, cheio de luminosidade, amando pelas palavras o que não me foi possível antes...
Dá-me a tua mão e prova-me que és igual a mim.

16 novembro, 2005 

Cartas para alguém nunca existiu...

Porque será que tantas vezes somos melhores seres humanos através das palavras? Esta serei mesmo eu? Ou apenas o delinear de um livro que um dia escreverei mesmo que seja somente para mim? "Treinei" anos a fio, anos e anos de escrita em papéis que escondia para que não me lessem a alma, para que não troçassem de mim, "que mania que tens de estar sempre a escrever essas coisas tão fúnebres..."

Era o meu "escape", a única forma de me soltar. E ao fim de uns minutos de raiva escrita respirava melhor. A música por vezes tem esse poder sobre mim, mas é mais raro. E os papéis andam sempre comigo para que nem sentada no comboio sinta o tremendo tédio do vazio.

Nunca fui de estar quieta, o que não deixa de ser espantoso dada a minha preguiça inata. Mas a minha mente tem que estar constantemente em movimento. Talvez não saiba estar só. Já me acusaram de tal e penso que com toda a razão. Não teria jeito para meditar e um dia percebi que o amor escrito é fascinante, leva-nos a um limbo estranho entre o real e algo que ultrapassa tudo. Talvez não a todos, talvez apenas a mim... Não sei. Foi como se entendesse aquilo a que chamo "o outro lado" e esse amor de que falam quando se morre.

Acredito que te possa fazer falta neste momento essa ternura que lês em mim (e não só a minha) enquanto o teu frigorífico se mantiver sem vida, a luz não estiver acesa ao chegares a casa.

Colecciono vidas e se não vivi tudo, conheço demasiadas histórias.
O meu encaixe emocional (demasiado frágil) não me permite continuar a escrever como Ana no teu cantinho... a Sofia fá-lo-á por ela, talvez não no mesmo tom, talvez num outro formato.
Não tenciono fugir, não depois das tuas palavras, por mais medo que tenha, e olha que tenho imenso...

Tenho saudades do mar, assim, no silêncio que me descreves. Sinto a tua falta nos momentos em que não existes. Quero que me abraces, me agarres e puxes para o teu colo porque quero beijar-te e deixar de saber onde estou, sentir-te e ver apenas o teu rosto. E se eu não soubesse que sou feita de sangue e carne, de passado e presente, de amor e sofrimento... dir-te-ia baixinho, novamente... Amo-te.